meus ombros caídos, rendidos à avalanche. rochas fendidas, rasgadas num relâmpago coberto por gelo.
minhas células em metástases, pedregulhos esfarelados no vazio. ausente o vale verdejante onde desaguar em amparo. glaciar. em espera no corredor da morte o degelo.
nem o mais ténue vislumbre de energia galgou as fronteiras do seu querer, invadindo um simples pensamento carregado da vontade de executar. prenhe da repulsa, repudiou todas as obras por criar.
num imensurável alívio, soltou
um rotundo não a qualquer Big Bang padroeiro da imensidão cósmica : lixo universal, conspurcando o nada. um não redondo aos números, em cuja certeza morre a sabedoria do desconhecido. um profundo não às palavras, herdeiras bastardas de crias criadoras de vontades por acontecer. um não perfeito à perfeição. por existir, ostentará esse eterno mortal defeito!
sempre que o jogo acaba, nem que longe da derrota, o chamamento da dor seduz lentamente forçando a que rode a cabeça e a coloque por cima do ombro, feito base de uma guilhotina.
ofereço-a em sacrifício ao cantico da máquina que o mergulha no vício da moeda seguinte.
mesmo mortal eis o canto da sereia. vive enroscado nas notas inconfundíveis do tilintar das quarenta moedas que compram a vida.
meus olhos, o monitor. vítreos. esgotados, assumem a falência da não dor. já não. não dói. não passa e não corre nas veias o fel que amargou os elementos. órgãos vitais para o respirar. vítimas da decrepitude flagrante que lhes assina o óbito.
ufana, deu conta do fim. concebeu-o e metodicamente ergue-o robusto sobre a vida fenecida. em epitáfio colocou: por decrépito lei ruiu este castelo de cartas!
a vida é um jogo viciado.
roleta. grilheta ferrando a ferros a vontade. há-de, no Hades, rimando como perfeito inferno, que é, deliciar-se com o gáudio fúnebre de uma missa sem credo. crença morta. padroeira orando as contas do epitáfio, rosário, calvário da via sacra de fecho.