quinta-feira, março 26, 2009

VAMPIRO

I.
o manto negro da noite rasga a escuridão do meu medo.
os meus passos assumem a frémita pulsação de um predador noctívago.

saio pelo mundo:
território predilecto para cravar mandíbulas no peito farto das musas.
deliciosa troca.
sorvo-lhes a melada veia das palavras
enquanto lhes canga o prazer!

II.
miro a cútis cálida do teu pescoço
um pedaço de tempo antes de irromperem sedentos
os meus caninos sorvedouros.

a minha vontade alada faz-me descer até ti,
num volteio erguido na volúpia.
então,
o meu ósculo invade sôfrego a tua pele e sussurrar-te-ei:

foi o teu amor que ordenou esta minha mordida!

III
para inveja das cordas vocais
(reduzidas piamente à sua condição orgânica)
corre agora uma cantata sem fim
num rio de mel.

o caudal rola num fluxo perfeito.
há-de desaguar no ósculo dourado que me cola à tua pele adiando o fim.

20 Comments:

Blogger O TRI said...

Muito bom.... não estou de todo surpreendido visto que o Amândio já nos habituou a este nível de qualidade. Um texto sem dúvida soberbo....

12:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito bom.... se bem que me impressiona a forma de escrita já não me estranha tanto a qualidade. Aliás nem esperava outra coisa do caríssimo Amândio.Um texto soberbo, sem dúvida....

12:06 da tarde  
Blogger tsiwari said...

Solidário no sair pelo mundo.

Quase convertido à causa gótica, pela beleza da escrita.

Abç

4:23 da tarde  
Blogger Júlio Mendes Rodrigo said...

Com a mestria e arte do costume o Dr. Amândio presenteia-nos uma vez mais com um magnífico texto, ecoando desta vez à nossa memória as leituras de Bram Stoker ou ainda de Edgar Allan Poe...na tradução do Poeta!

O CORVO (excerto)
Trad. Fernando Pessoas
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.


É só isto, e nada mais."
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,


Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

5:08 da tarde  
Blogger paulotpires said...

um texto realmente digno de criaturas da noite

9:35 da tarde  
Blogger vieira calado said...

Olá, amigo!
Achei muito interessante o seu poema, sabe?

Um abraço

3:08 da manhã  
Blogger SAM said...

Nossa...Que maravilha!!! Poema e a ilustração também.



Vim desejar-lhe uma feliz Páscoa, amigo! Beijos

4:42 da manhã  
Blogger Pandora said...

fantástico,lindo,arrepiante,apaixonante...
adorei...
beijinhos

9:33 da manhã  
Blogger (Un)Hapiness said...

é smp preciso morder a felicidade...não vá ela ser ilusão da vida...

**

9:38 da tarde  
Anonymous Laila Braga said...

tempo que não vinha aqui... sempre bom voltar...

6:32 da manhã  
Blogger vieira calado said...

Muito bem escrito.
Gostei.

Um abraço

5:15 da tarde  
Blogger João C. Santos said...

Olá,
permite-me que use o teu espaço para apresentar o meu primeiro livro, «Ausência de mim», editado no dia 24 de Abril pela EdiumEditores .
Obrigado.

3:47 da tarde  
Blogger Serenidade said...

O fluxo do prazer...

Serenos sorrisos

12:23 da tarde  
Blogger Ana Rita said...

É no manto negro da noite, que o silêncio consagra o Perdador, envolvendo a Vitima numa imensidade que entra pelos poros, agitando o alento que teima em ainda se mexer!

:)

2:19 da tarde  
Blogger alejandrapiam said...

oh!!!
Realmente este poema está bueno.
un abrazo grande

12:27 da manhã  
Blogger Telma Rodrigues said...

uma sequência deliciosa!

11:38 da tarde  
Blogger Alessandra Espínola said...

ah, que saudade de tua poesia... sempre tanto mais poética!

10:46 da tarde  
Blogger mixtu said...

um desaguar...
um fim que é principio...

predilecto territorio

abrazo serrano

11:14 da tarde  
Blogger Leslie said...

Muito Bom!!!!
Adorei!!
Amo vampiros!!!

2:27 da tarde  
Blogger a.m said...

Sempre deliciosas as palavras que aqui se leêm

11:49 da manhã  

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