sexta-feira, outubro 26, 2007

ESTA CIDADE CHAMADA IGUALDADE, NUNCA UTOPIA



I

Ergue-se a tua voz, cidade.

Diz-me que a verdade não está na terra do nunca.


Pulsas por cá, sem que o teu betão seja surdo,

somente cimento, pálido no seu cinzento,

Não sendo tormento sem lugar à humanidade!

Nesta cidade

Estou, sem querer uma estada sem Ti, na ausência de todos.

Assim se construirá a nossa luta pela partilha, tecida nas malhas do consenso,

sem voltar nunca as costas ao desafio da fragilidade.

O lugar a todos torna-te cidade lar de cada um.


II

E se te consome o frio, quando assola, seja meu o cobertor do teu aconchego.

E se obedece à míngua o pão teu, que essa seja saciada pela metade do que levo à boca,

quase sempre em demasia.

E à falta de trabalho para Ti, que eu te abra uma porta, sem medo cego de que o teu sopro de felicidade seja vento gélido para o meu sucesso.

E que a dita tua deficiência seja razão para o profundo carinho da minha devoção.

Que as chagas da tua doença mirrem sob os auspícios do mais terno cuidado.

E que nesta cidade, venha o dia, nos dias todos,

Em que a tua mão estendida assim seja para apertar a minha,

nunca como súplica da vida que te foge!


III

Nesta cidade ergue-se ufana a vontade do arco-íris.

Pulsam, sem mácula, todos os tons, todas as nuances que o preenchem.

Nesta cidade é grande a vontade de jamais submergir ao triste domínio do preto e do branco.

Sem negritude mortal, numa ausência da palidez cínica, construímos um ninho sem fim.


E quando minha língua não entender a tua,

Erguemos o nosso entendimento na universalidade de um sorriso.


IV

Esta cidade chamada igualdade,

Nunca responderá ao chamamento da exclusão!




Ermesinde, 23 de Outubro de 2007

TEXTO OFICIAL DO ARRANQUE DO "ROAD SHOW"

IGUALDADE PARA TODOS, DA UNIÃO EUROPEIA,

ORGANIZADO PELA CÂMARA MUNICIPAL DE VALONGO

©2007, joaquim amândio santos e negratinta editorial


photo by

©2007 PEDRO MOREIRA

terça-feira, outubro 09, 2007

ASAS DO (MEU) DESEJO


I

Olho-te - meu descanso ritmado, nome verdadeiro para o aconchego.

Sei que te sorrio quando bato as asas do desejo,

com destino traçado pelo azul de um céu - ventre da ternura.

Estou longe do vazio E languidamente ergo o meu aconchego alado.

plano sossegado sem fim no horizonte que envolve o meu ninho.

Sou-te desejo - carregado de vida.


II

em cada palavra um sopro.

em cada verso uma acometida.

em cada estrofe um mundo.

cada momento: mais!

gigante sem fim num simples segundo.

a poesia tem horas que o tempo não marca.

o êxtase tem regras que apenas respeitam ao frêmito.

nascem selvagens, criam mandíbulas que desfazem fronteiras.

nunca desfalecem, apenas se aconchegam para lá do cansaço,

onde o prazer vira lânguido repouso.


III

a minha saudade partiu em tua busca.

a tua procura preencheu o meu pensamento.

a minha vontade grita livremente enquanto permanece prisioneira,

no aconchego da tua mão fechada.

por cada proibição maldosa erguida num falso fervor do passado,

a panaceia aparece contunda numa mordedura predadora.

se me tolhem o sentimento, desfaço a dor numa prece canina!


IV

E é um manto de seda – tua noite

A cobertura doce da minha vontade.





jamais deixarei de voar!
(nem preciso das retinas para olhar mil vezes sem fim o filme de Wim Wenders...)