terça-feira, junho 20, 2006

NÃO DESTE MUNDO


I

viajamos
sempre que ousámos
sorver o sabor de um céu,
sonhando um pleno azul
onde namorem estrelas cintilantes.

somos a génese de um cometa
sem rota obrigatória,
sem dia nem hora de agenda,
que lhe negue o doce sabor
do caminho aleatório,
sem as grilhetas do que nos sujeita,
sem nada mais do que o que somos.
sem obrigação,
já não deste mundo.

também não partimos
de lado nenhum
para outro nenhum lado,
sem que a bússola ouse
renegar a ordem do norte
em prol dos trilhos da vontade.


II

no preciso pedaço de tempo

que sucedeu à tua ida,
em mim já não me resto.
sou como estou
estás onde és.

és no estado de graça
que me suaviza o rosto
inexistente fora do meu sonho.
dá-me gáudio

tecer as linhas que contornam o teu sorriso.

olho bem para lá do momento
onde se cansam os meus globos oculares.
mesmo quando se rendem,
sigo forte pelo caminho.
lá longe,
onde venço a distância,
repouso a minha vontade.

quando deposito ternamente
o meu joelho no teu chão
cumpro o ritual genuflexo
da devoção que te ostento.


III

na cauda do cometa
escrevo as partículas do meu dia,
na minha manhã,
antes que as horas se tornem parteiras
do ocaso da vontade matinal,
rendidas ao meio-dia.

hora cósmica
onde anoitece o meu sossego.