quarta-feira, março 29, 2006

VAMOS POR PARTES



no meu lento enroscar
observo ciumento
como dançam

minhas pernas nas tuas.
dizem
que estão a executar um volteio.
digo-lhes
que sei bem que arrufam

prenhes de paixão.

e é mesmo por aí que quero ir.
como portagem, justificadamente exigível,
exiges que te deposite
a totalidade do meu corpo.
é teu.
no mais singelo dos seus pedaços.

mas hoje
deposito por cá apenas as minhas narinas.
respira por lá.
deixa-te sossegar no meu ópio
enquanto inalas o meu incenso.
e quando tomas posse
nem hesitas
no teu breve olhar pelo meu pescoço.

a tua escolha já está feita
e os teus dentes de sabre morderam-me a vontade.

sexta-feira, março 24, 2006

CURA



o que nasce

na pureza do amor,
combate sempre sem tréguas
a superficialidade.
o que irrompe ufano
fruto da euforia que só a paixão provoca,
derruba categoricamente
os muros erguidos pelo medo.
o que brota sem cessar
do nosso desejo,
amortalha definitivamente
a mágoa que nos consome.

o que nasce de mim
é Teu.

terça-feira, março 21, 2006

FAROL



enquanto
os favores das musas
deixam que sobre ti
caia o manto do sossego,
ergo musculado
o alerta constante
que presidirá ao meu turno guerreiro.

sonha
que eu vigio.

sexta-feira, março 17, 2006

PLEITO


mais do que serem fruto salgado
de um lamento,
o que deve encher as lágrimas
é o desejo.
que percorram os sulcos do corpo
até desaguarem nos lábios.
perfeita seiva,
fluxo deliciosamente selvagem.

não me importa

que caminhos terá trilhado
o anterior destino que presidiu
à tua dor.
assumo a plena vontade
de saber para onde mandas
o teu destino

e se por lá
me levas sempre contigo.

terça-feira, março 14, 2006

BÚSSOLA


disse-me a rosa-dos-ventos.
és
demasiado única
para teres lugar
no ventre
das fronteiras do mundo.

deu-me uma bússola que renega
o norte
e saio
de um mar revolto
para aceitar o farol
que ostentas nos teus olhos,
conduzindo minha vontade
navegante
para águas tão cálidas
quanto sossegadas.

eis-me
por entre fiordes de ternura,
num leito de rio
feito da seiva que te percorre
o corpo.
é lá que desaguo o desejo.
doce saliva
que cai em gotas de mel.

Agora navego-te
pelos lados da fascinação

saboreando na ondulação
a tua sedução.
meu puro deleite.


brinca traquina
com o meu suor.
sabe-o fruto

completamente rendido ao cansaço,
nascido no preciso momento
em que fiz morrer o meu gemido!

quinta-feira, março 09, 2006

DA VONTADE

se ausente está teu rosto,
saboreio cada um dos seus contornos
no sorriso

que me provoca a tua lembrança.
na ausência da tua voz
ouço-a num cântico saído
do encanto

que preenche a minha alma.

longo cada segundo

percorrido
ao largo longínquo do teu cheiro.
demasiado longe dos teus sons,
ausentando-me

do delicioso toque
nascido do teu respirar.

como preenchem meus ouvidos!

será sempre para lá,
onde param os meus limites de aceitação,
que farei saber:
eu que não quero que existas mais longe
do que a um simples toque da minha vontade!

será sempre liminarmente alvo de recusa
Tú por cá
sem menos do que a permanência sem fim,
erguendo o aconchego
onde de nunca eu abalo!

terça-feira, março 07, 2006

VIGÍLIA


na tua ausência
enrosco-me felino
nas malhas da saudade.


de que foges?!
de mim jamais
que me encontro
aconchegado
dentro de ti!

para onde vais?!
que não te ceguem
cânticos melados,
escritos no nevoeiro.

porque te cegas?!
mira em teus olhos
meu ninho.
vê-te nesse límpido espelho.

é aqui que tú estás.

construindo as notas
da minha sinfonia,
enquanto cumpro as horas marcadas
num namoro perfeito
com a nossa cumplicidade.

quinta-feira, março 02, 2006

PÉTALAS


quando te venero
a textura dos meus abraços
cumpre o doce amplexo
com que as pétalas amam o coração das rosas.

quando te sossego
a ternura dos meus afagos
nasce da amorosa linguagem
que constrói os sulcos das folhas.

quando te saboreio
a dádiva dos meus beijos
ostenta a firmeza perfeita do caule
por onde passo a caminho do teu céu.

quando são rosas,
ouves o meu búzio.
recebem teus ouvidos
os compassos perfeitos da nossa sinfonia.

entranhados no teu coração
erguem o segredo que te nutro.
sólido, suavemente sólido,
onde pulsa o amor.

quarta-feira, março 01, 2006

DAS ESTRELAS

sempre que cumpre
a doce velocidade do sossego,
o sopro do vento
transporta o meu sussurro
até ao ninho das estrelas.
onde tú estás.

e volteio por cá,
exalando o doce suor
da dança da sedução,
ao sabor da chuva
de estrelas cadentes,
tuas mensageiras de conquista.

recebo-as
na minha liberdade de escolha.