no meu lento enroscar observo ciumento como dançam minhas pernas nas tuas. dizem que estão a executar um volteio. digo-lhes que sei bem que arrufam prenhes de paixão.
e é mesmo por aí que quero ir. como portagem, justificadamente exigível, exiges que te deposite a totalidade do meu corpo. é teu. no mais singelo dos seus pedaços.
mas hoje deposito por cá apenas as minhas narinas. respira por lá. deixa-te sossegar no meu ópio enquanto inalas o meu incenso. e quando tomas posse nem hesitas no teu breve olhar pelo meu pescoço.
a tua escolha já está feita e os teus dentes de sabre morderam-me a vontade.
o que nasce na pureza do amor, combate sempre sem tréguas a superficialidade. o que irrompe ufano fruto da euforia que só a paixão provoca, derruba categoricamente os muros erguidos pelo medo. o que brota sem cessar do nosso desejo, amortalha definitivamente a mágoa que nos consome.
mais do que serem fruto salgado de um lamento, o que deve encher as lágrimas é o desejo. que percorram os sulcos do corpo até desaguarem nos lábios. perfeita seiva, fluxo deliciosamente selvagem.
não me importa que caminhos terá trilhado o anterior destino que presidiu à tua dor. assumo a plena vontade de saber para onde mandas o teu destino
disse-me a rosa-dos-ventos. és demasiado única para teres lugar no ventre das fronteiras do mundo.
deu-me uma bússola que renega o norte e saio de um mar revolto para aceitar o farol que ostentas nos teus olhos, conduzindo minha vontade navegante para águas tão cálidas quanto sossegadas.
eis-me por entre fiordes de ternura, num leito de rio feito da seiva que te percorre o corpo. é lá que desaguo o desejo. doce saliva que cai em gotas de mel.
Agora navego-te pelos lados da fascinação saboreando na ondulação a tua sedução. meu puro deleite.
brinca traquina com o meu suor. sabe-o fruto completamente rendido ao cansaço, nascido no preciso momento em que fiz morrer o meu gemido!
se ausente está teu rosto, saboreio cada um dos seus contornos no sorriso que me provoca a tua lembrança. na ausência da tua voz ouço-a num cântico saído do encanto que preenche a minha alma.
longo cada segundo percorrido ao largo longínquo do teu cheiro. demasiado longe dos teus sons, ausentando-me do delicioso toque nascido do teu respirar.
como preenchem meus ouvidos!
será sempre para lá, onde param os meus limites de aceitação, que farei saber: eu que não quero que existas mais longe do que a um simples toque da minha vontade!
será sempre liminarmente alvo de recusa Tú por cá sem menos do que a permanência sem fim, erguendo o aconchego onde de nunca eu abalo!