sexta-feira, fevereiro 24, 2006

CONCHA


rasgo um terno sorriso.

saboreio-o puro
enquanto executo em ritmo de dança
uma suave genuflexão aos pés do teu altar.
devoto sem tréguas,
ergo uma prece onde exalo um rasgo inteiro de emoção.
nomeio-a mensageira sem medo
do foral que concedeste à minha alma
para que esta viva
a sua plena reconstrução.

fizeste-me falta
para me separares
dos caminhos tentadores do abismo.
fizeste-me falta
quando me preencheu o vazio da amargura
na ausência da tua mão sobre o meu ombro,
sempre que me divorciava
dos trilhos do pensamento.

mas ousei.
dotei-me das rédeas do atrevimento
para construir a vitória final do amor
sobre as regras do tempo.
se então sonhei
agora acredito que a normalidade ténue
será esmagada pelo culto da emoção!

numa breve oração peço à Lua
que seja companheira
na minha demanda pela praia de abrigo
que construíste no fim do meu mar.
uso as suas ondas para em ti desaguar.
porque és irrepetível,
gostava que nesse pedestal
os teus olhos vissem o que os meus estão a dizer.

por entre os sargaços sedosos,
tendo rochas cálidas como leito,
ofereço-te os favores da lua
e o cheiro da maresia para que durmas.
para que sonhes. enquanto eu vigio.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

capa e dedicatória



pedra sobre pedras
ABRIL, 7
o que nos ilumina jamais poderá ser o que nos consome.
aconchega-nos no calor do sentimento.
não nos reduz a cinza com o inferno da posse!

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

fecho


intenso
até o vazio
de um contador de histórias.

As minhas sandálias
já pariram
todo o pó do caminho.
mergulho lânguido
nos favores do descanso.

honro a deliciosa anestesia
onde faço traquina
o que me vai na alma.
saboreio insano
o que furtei à vida das palavras.

sorrio prisioneiro
dos versos que soltei,
do namoro contínuo
com as emoções.
como me seduzem
bordando os contornos,
os princípios e a sólida moralidade
onde construo o fim.


sei
definitivamente,
o tempo imenso
que terei para dormir
quando morrer.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

cristal


porque me iluminas
ouso para ti erguer os meus olhos
contemplando-te no vocabulário
do encantamento,
miram-te bela,
bem dentro da minha alma,
agora dada às retinas minhas a saborear!
vejo-te nos contornos
da suavidade
ostentas os traços firmes de terra.
sem longe,
renego a distância.

enterra os teus medos
para lá dos sete palmos
que o hábito prediz. ousa teu voo
bem acima do firmamento.
não te fiques pela sedução das estrelas.
teu caminho está amorosamente
no trilho do sétimo céu.
e por lá,
cai o manto da noite
como se fosse amor.

os nossos receios já se foram.
meticulosamente reduzidos a estilhaços.
sem mácula.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

lágrima

encantadas as minhas retinas
com o namoro prateado
entre a lua e o mar,
salgado.
leito ondulante
de um coração navegante.

eis o barco do teu nome.
quando o sussurro,
iluminas-me sem necessidades de ciclo,
mais poderosa do que o mar,
imensa como a lua!
parteira da salinidade
que me tempera o palato.

então contemplo-te.
e deposito meu corpo no casco
enquanto docemente te embalo.




quarta-feira, fevereiro 08, 2006

namoro


mereces cantos nascidos
na espessura doce do mel,
sopros constantes
que as tuas musas te sussurram.

preenches as páginas dum planetário,
fazendo das tuas palavras planetas,
rodopiando em velocidade de aconchego
à volta do astro que as conduz.
a tua amorosa vontade.

a tua voz é herdeira
de um cântico de vitória.

preenche por inteiro
a chama viva do meu mundo
senhora e dona,
ninho onde respiro
sonhando com o leito
que transportas
em cada rasgo do teu terno sorriso.

em teus olhos inscrevo
traços do meu sossego,
sorrio calmo. leio neles o meu destino.
por amor,
teces as coordenadas do meu mundo.
ergues-te para lá dos limiares

que traçam fronteiras de recusa.
cruzas toda a imensidão
do que te separa da suavidade.

e danças,

embriagada no néctar cristalino
das histórias de amor
que te sussurra a chuva.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

vassalo

grito desesperado
por longe me quedar da lua
choro uma tépida sorte
que me penetra crua.

sonho-te. perfeição que me possua.
olho-te tão distante. bela.
herdeira da minha pura consciência.
tão nua.

não te aceito ruína!
não cantarei baladas perto do fim
e recuso mergulhar minhas pálpebras
nos favores do choro.

por estes lados
não cumpro velórios regrados
pela fragrância do jasmim

não me quedo inerte
não ajoelho vassalo
do reino da desistência!

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

verbo



absorvo cada uma das tuas palavras.
não as soltaste para que fossem embora.

sei que queres que as detenha,
levando-as ternamente para a concha
nascida nas palmas das minhas mãos.
ninho de aconchego.
onde cabe o volteio preparado para dançar
com as letras.
canta-me com o ritmo do teu sorriso
que a gosto o cubro, ensopado de negra tinta.
aspergindo as minhas mãos,
sopro do sussurro
que estilhaçou o controlador do tempo.

morrem as horas, ergue-se o homem.
intenso. ama-as. devora-as.
ternamente intenso.
Mesmo que reduzido à simplicidade
de não conseguir conter a imensidão
no ninho da alma.
tanto que a quereria acariciar.
deliciando-se com a posse.

a minha negra tinta é a cor do verbo.
Uma semente donde brota a minha canção.
numa luminosa paixão.
soará em tons de luz negra.

até que a voz doa.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

sal


quis escrever na cor
do sangue. gotejou
verde,
viciado na esperança.
guardado no que canto, recanto
de poesia!

e já não são lágrimas,
mas pedaços de maresia,
amargos no sal, doces ao toque,
objectos de cristal, puras
sondas de Marte,
enviadas do senhor da guerra.

agora rendido. repleto,
preenchido na causa perfeita.
Vénus carcereira
inteira no amor que cresce,
aconchegando-me à vida.
bordejando a sua fronteira.