a minha cor é a Liberdade. exala em cada pedaço de segundo a sua vida para lá da paleta que as nossas retinas conseguem conter. a minha cor sou eu, sempre que não me consome a palidez da dor, sempre que não me renego a força colorida do sorriso ausente só para quem não respira o que é vivo. em carne.
de costas voltadas para razões que possuam o gesto ou vontades que controlem o momento, ouso tornar-me palavras e soltar a rebelião! por onde quer que avance a revolução, deposita um singelo passo na minha morada! faz-me mergulhar no seio cristalino da liberdade, tão férrea, tão eterna, que nunca a leva o vento.
enquanto permaneço por lá num arrastar de asas, eis que me vejo para lá do caminho. vivo as palavras na morada que as escolheu.
canto-me em baladas que só cães entoem, num uníssono crescente com o bafo alado dos espectros. trazem novas dos confins da cegueira. encanto-me em bailados destinados às pombas. num festim devoram as pedras que constroem o lar das minhas orações. perco-me em palavras, moléculas do sussurro do vento. sinto-o quente. exala o bafo procedente dos idos do inferno.
eis o nosso momento. eis o nosso pedestal. eis o que somos. humanos. votos pouco contidos na emoção. amantes do vazio firme depois do oráculo cumprido.
eis os herdeiros do magro papel principal. parteiro de uma figuração calada.
Já não caminho sempre envolto no nevoeiro que anuncia as quebras de direcção. reneguei as estradas que se ergueram bem para lá da minha escolha. ultrapassei a fronteira por trilhos que me embalam num mergulho no teu mundo. nosso ninho, que tão sedosamente tento merecer.
e os passos sucedem-se para lá da ausência física do que vai na alma e nos preenche o coração.
sei qual a minha rota. estou a caminho de ti. meu porto de abrigo.
insano fico sempre que descubro que me perdi quando menti mesmo que abominando, quando tive medo mesmo sendo resoluto, sempre que ousei arrogar mesmo que desejando viver simplicidade, que me ofereci laivos de vaidade quando simplesmente buscava a estética, que cai na cegueira da ignorância ignorando tudo o que sei, que matei o que sou sendo o egoísmo carnificado.
quando as malhas do calculismo se sobrepuseram à minha vontade, e tombei, sem balanço, na loucura imperfeita de quem vê desmoronar o que é. amortalho-me na derrota, essa filha predilecta da mentira!
a minha lágrima irrompe da luz que me ilumina em cada fracção dos segundos que cumpro no meu respirar. a minha lágrima atravessa-me num sulco tão profundo como a dor que ostento em cada soluço do meu choro contínuo. a minha lágrima corre célere para o mar. a minha lágrima sorve a imensidão do oceano e, sem descanso busca o meu porto de abrigo. tua marina. a minha lágrima é a minha liberdade. exala em cada pedaço de segundo a minha vida para lá da paleta de cores que as nossas retinas conseguem conter. a minha lágrima faz-me mergulhar no seio cristalino da tua liberdade. tão férrea, tão eterna, que nunca a sopra o vento. a minha lágrima és tu. a minha lágrima vai para onde tu caminhas. sempre que me consome a palidez da dor sempre que não me renego a força colorida do sorriso.
sopram ventos na bonança. sopros de maresia transportam o hálito das musas, suave como o gosto de morangos que se afastam da minha boca, rendida à acidez de um inglório salivar.
para lá do sargaço, sempre que este mergulha no areal, numa definitiva caminhada para o descanso de quem fenece, ergo o meu olhar sorvendo o horizonte.
contorno o hipnótico ondular para que não me embale. não o desejo. permaneço desperto, esperando a longínqua sombra de um barco.
nele ouso pensar que virás. que em minhas praias coloques a alma e as reclames. conquista tua, de sempre, em águas calmas um oceano inteiro. a minha gota de água.
parti em busca. persigo-me por lá. onde te quedas. para lá dos muros mudos do teu silêncio. sussurram-me que o mundo vive no seio de quatro cantos e eu procurei em tantos mais! em todos e em nenhum almejei um sopro de ti.
procurei em cada palmo que calcorreei. grita o silêncio da tua ausência. procurei em todas as flores, murcharam porque por cá ainda não estás. procurei na cidade e só trouxe os ruídos que a mesma, insensível, produz sem parar. procurei nos campos e por mais vida que pulasse à minha volta, em mim só pulsava o desespero de não te encontrar!
procurei num qualquer e em todo o tempo, procurei agora, procurei sempre sem nunca.
corri desalmado num mundo, em todas horas e em cada segundo. por cá e por lá só se falava de ausência. procurei adulta, procurei-te criança, procurei nas histórias de encantar! procurei no meu mundo e nem os sorrisos de quem me quer bem, limpou a cegueira crescente das lágrimas!
irrompo feito plena praia. todos os meus grãos de areia assumem uma ténue união erguida por um grito. pungente. nascido na saudade.
dizer-te adeus? como? sendo tu o meu mar, mesmo não sabendo por onde navegam as tuas águas. os meus perdidos pedaços de quartzo
longe de uma costa que quis ser minha. ser eu. ou nada?... uma maré que não muda, conduz o vento para longe das palavras, num pleito inalcançável que guia cada um dos meus roucos apelos ao colo do cansaço. pleno.
por uma eternidade que se arroga o direito de reclamar o fim do brilho que traduz uma luz. única. sabes?! esse lampejo traduz o que os meus olhos dizem!
dentro de mim vi-te sorrir. do meu céu.
dentro de ti pulsa, mesmo que trémula, minha estrela.
bem antes da matilha, chega-te o meu uivo, lua altaneira! abençoa-me enquanto te nutro o ego com uma genuflexão perfeita. diante do mundo, ergo-me feito teu altar para gáudio de quem calcorreia o teu luar, enquanto peregrino.
sem longe nem distância, busco-me onde tu estás. consome-me o desespero da ténue miragem em que teu ser se transformou. nas minhas cálidas retinas inicio o caminhar. mesmo trémulo, conduzo meus passos para aí.
a quem vir por aí o sentimento façam-lhe saber que o desafio. que venha. que traga os pedaços do tempo. que ostente cada momento. sustento. aventura concebida numa insana vontade que a minha paixão fará parir!
Bem antes da matilha, chega-te a minha súplica, luz sem fim.
sei que vou morrer precisamente no dia em que menos jeito me dá! sem mais desejarei agarrar-me ao tempo. todo. de cada recanto do universo.
dizem-me que a morte fará a sua visita vestida de negro. aos olhos do meu gosto, invejarei a sua elegância, desviando o meu último olhar da tradicional ceifeira pronta para o definitivo uso.
arrogante símbolo do seu trabalho, seria um bom logotipo, majestosamente aplaudido pelo mercado.
quando conversam, falam a mesma linguagem, usam o mesmo tom. entoam a mesma intensidade. falam para lá das línguas do mundo, num momento sem tempo, num local sem fronteira, num espaço onde só cabe o namoro, no momento de extase entre a brisa do vento e as folhas das árvores, no deleite transmitido entre os bicos de pássaros em amores de Primavera, no gozo emanado entre os dedos das mãos que saboreiam, até a infinitésima parte do segundo , que antecede o toque que preside ao começo do seu entrelaçar, do segredo revelado entre o sussurro das ondas e a areia. em cada movimento um enamorado mar!
falo então comigo. tanto. tornei-me um explorador em euforia por ter descoberto o mais intenso palpitar. batendo incessante.